sexta-feira, 25 de abril de 2008

Astrônomo brasileiro flagra estágio inicial de formação de estrela gigante


Outro motivo para o meu sumiço foi por conta de um trabalho que eu precisava finalizar. Trata-se de um resultado bem bacana da minha pesquisa e já que estou sempre falando de resultados bacanas de outros colegas, por que não falar um pouco dos meus resultados?

Estive às voltas com alguns dados de uma região chamada W51 IRS2, que é uma subregião de W51, um grande complexo de formação de estrelas de nossa galáxia. O foco da minha pesquisa é estudar essas regiões de formação de estrelas, mais especificamente como as estrelas com muita massa se formam.As estrelas com massa inferior a 8 vezes a massa do Sol têm seu mecanismo de formação já bem estabelecido ao longo dos anos. As que têm mais de 8 massas é que ainda não se sabe ao certo como se formam. E são essas que me interessam mais!

Essa imagem acima mostra pelo menos uns cinco objetos que são candidatos a estrelas de alta massa (como são chamadas essas estrelas com mais de 8 massas solares) em estágios ainda bem iniciais de formação. Todas estas estrelas brilhantes e amareladas pertencem a este berçário. A estrela esbranquiçada à direita está entre nós e o aglomerado, que deve estar a uns 20.000 anos luz de distância. A gente já sabia que este aglomerado guardava algumas surpresas, na verdade, ainda estamos analisando os nossos dados e mais surpresas estão surgindo. Só que ela é uma região meio difícil de se observar — está distante e é bastante “apagada”, pois tem muita poeira. Para poder estudá-la tivemos de recorrer ao que temos de melhor no mundo: o telescópio Gemini Norte, que está no Havaí e um espectrógrafo de última geração. Tudo isso ainda com o auxílio de uma técnica revolucionária que compensa os efeitos que a atmosfera introduzem nas imagens. Isso meio que elimina estes efeitos, fazendo com que as imagens produzidas na superfície da Terra sejam até melhores que as produzidas pelo Hubble!

Essa técnica exige analisar uma estrela brilhante que esteja por perto do objeto estudado, mas no nosso caso não tínhamos esta possibilidade. O jeito então foi criar uma estrela! Neste caso, um laser bem potente é apontado na mesma direção do alvo. A uns 90 km de altura, existe uma camada de sódio proveniente da queima de meteoros na nossa atmosfera e a intenção deste laser é excitar um ponto desta camada que brilha como uma estrela. Essa estrela artificial é usada para estudar como a atmosfera borra as imagens naquele instante. Aí os computadores introduzem pequenas deformações no espelho dotelescópio para compensar os efeitos da atmosfera. Essa imagem foi obtida dessa maneira, mas as surpresas vieram de outros dados.

Olhando no espectro desta estrela mais brilhante acima à direita, conhecida como W51d, nós encontramos evidências que esta seria uma estrela com muita massa, talvez umas 90 vezes a massas do Sol. A temperatura desta estrela deve ser por volta de 45.000 graus e tem uma luminosidade de quase 300.000 vezes a luminosidade do nosso Sol! Acontece que em um trabalho no começo deste ano, nós conseguimos mostrar que esta estrela estava em um estágio de evolução muito jovem, conhecido como uma região HII ultra compacta. Este é um estágio bem inicial da formação de estrelas de alta massa. A nossa descoberta representa o flagrante de uma das estrelas mais massivas conhecidas em um estágio tão jovem de evolução.

Outra descoberta importante é referente a esta mancha avermelhada no centro da imagem. Ela deve ser uma estrela também de grande massa se formando, mas em um estágio ainda anterior à W51d. Esta estrela, chamada de IRS2E está rodeada por um disco que transfere a matéria de um reservatório externo para a própria estrela, fazendo-a aumentar sua massa. Esse processo de formação nunca foi aceito sem sérias críticas e tem gente mesmo que não acredita nisso. Eu particularmente sempre achei que não só é possível, mas também necessário que as coisas se processem desta maneira. Agora esta aí uma prova!

Um resumo do artigo que vai sair no dia primeiro de maio está no site do Observatório Gemini (www.gemini.edu). A matéria se chama “Two Very Young Massive Stars Unshrouded with LGS AO” e está em inglês.

Este post foi publicado em Observatório, Sexta-feira, (25/04/2008), às 10h51.
Postado por Leila Ossola

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